domingo, 20 de abril de 2008

Conto: Naquele ano de 1943



Numa manhã fria de Abril de 1943 a sirene tocou. Carlos não queria acordar, pois naquela noite havia sonhado com sua amada. Pelo menos em sonho estava com ela.

O ruído da batalha fazia-se ouvir por toda a parte. Parecia que até os canhões e as bombas gritavam em prantos, lamentando tanta barbaridade intensa e contínua. Mas naqueles dias de Abril perto de Rostov, no Sul da Rússia, Carlos só pensava em seu filho Juan que ainda não teve a chance de ver. Quando se despediu da sua jovem esposa ele estava em seu ventre.

O soldado Carlos, era como a guarnição o chama, vive atormentado com as lembranças de tantos mortos por uma guerra que cada vez mais perdia a verdadeira razão. Razão, essa era a palavra que ele não entendia. Com apenas 28 anos e uma vida promissora pela frente e agora não sabia nem se ia ver pôr do sol daquele dia. Não queria chorar, tentava ser forte, mas as lágrimas teimavam em descer de seus olhos, molhava a farta que o fazia sentir tão vazio e sem valor.

A farda, nem parecia uniforme e sim uma mortalha que os soldados levavam esburacadas para a cova.Mais um dia com mortes, feridos e poucos vivos, vivos fisicamente, porque a guerra já havia matado os espíritos de todos.

Nas noites frias reuniam-se ao redor da fogueira. Está noite era a vez de Carlos vigiar o alojamento. Num ombro uma metralhadora e na mão uma foto de sua amada Ana. Ela tinha os olhos pretos, pele clara e um sorriso meigo. Seu rosto vinha todo instante em sua mente.

O primeiro filho veio para selar a união de amor. Sentou, atrás de uma árvore e começou a escrever uma carta de despedida. Atreveu a dizer o que pensava no futuro, mas que provavelmente aquele seria o último contato.

E na última frase disse: Não te esqueças de mim, amei-te por um ano e levarei a tua imagem até o meu último suspiro.

Ali, naquele ano de 1943, não se combatia, morria.


Texto: Janine Bastos

Nenhum comentário: