quarta-feira, 25 de junho de 2008

Até quando???

por Janine Bastos

Me pergunto toda hora. Até quando vamos deixar o joguinho político interromper nossas vidas deixando nossos filhos padecendo em escolas sem estruturas, hospitais lotados e nosso saneamento básico a ruína.
Hoje o jornal O DIA apresentou a matéria : “Com reforma incompleta, moradores protestam.”

“Jogando os capacetes para o alto e aos gritos de “queremos trabalhar”, os operários criticaram a paralisação das obras. “Estava há um ano desempregado. E agora quem vai pagar minhas contas?”, questionou o pedreiro João Pereira, 36 anos. A moradora Maria Aparecida Bezerra de Aguiar, 26 anos, desesperou-se. “Eu, meu marido e dois filhos estamos morando de favor, esperando o novo telhado, o piso e o emboço da residência. Como ficará nossa situação?”, indagou.
De acordo com a decisão da Justiça Eleitoral, a obra descumpria a lei: “No ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da administração pública, exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei””


Bem, agora eu pergunto os políticos em ano letivo não podem trabalhar? E as vidas das pessoas devem parar por ser ano de votação.
Pessoas estão sendo prejudicadas por esse joguinho de interesses pessoais, ganância e luxuria por parte dos governantes. Creio que a palavra política nunca foi exercida nesse país só a politicagem . .

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Notícias...notícias..notíciasss

Andressa Schulze



"Há um excesso de notícias por todo lado", disse o professor de jornalismo Jacque Mick. Cada vez mais, as notícias se fazem presente na sociedade mundial.Infelizmente, muitas delas não possuem o caráter jornalístico, como o caso da ex BBB Gisele ter-se machucado em um ensaio fotográfico na França. Segundo Jacques, a quanitdade absurda de notícas veiculdas, na grande maioria das vez enchem os jornais, sites e outros meios de informação sem no entanto possuir teor jornalístico.
O problema maior, acredita o professor, é o fato de as pessoas muito em breve não conseguirem discernir jornalismo de fofoca.fato que não deve demorar muito a acontecer.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

IMPRENSA PRESENTE EM JOINVILLE DESDE 1852

Por Claudia Santos


Em novembro de 1852, começou a circular em Joinville, vinte meses após a chegada dos primeiros imigrantes, o “Der Beobachter am Mathiasstrom” (O observador às Margens do Rio Mathias). O jornal, que marcou o início da imprensa na maior cidade de Santa Catarina, era manuscrito em letras góticas, com artigos de interesse geral, dicas, críticas e piadas. O tom irônico era característica de muitos jornais da época.

O alemão era o idioma que predominava os cerca de 25 jornais. Poucos resistiram as pressões políticas. A historiadora Elly Herkenhoff, no livro “A História da Imprensa em Joinville”, descreve um perfil dos jornais que circularam na Colônia Dona Francisca até o início do século 20.
O primeiro jornalista de Joinville foi Karl Konstantin Knüppel, um imigrante que redigia de próprio punho os 50 exemplares do "Der Beobachter am Mathiasstrom", que era vendido a 120 réis cada.

O "Observador" circulou 1853 e serviu de inspiração para inúmeros outros títulos. O "Kolonie-Zeitung" ("Jornal da Colônia"), idealizado por Ottokar Doerffel, foi talvez a principal referência da história oficial da imprensa de Joinville, sendo veiculado de 1863 até 1917. Ano em que foi proibida a publicação de jornais em alemão. Um ano depois retornava escrito em português com o nome “Actualidade”.

Jornais como o "A Gazeta de Joinville", "O Globo", "O Democrata", "A União", "Balão Correio", "Neu Kolonie-Zeitung" ("Novo Jornal da Colônia", depois alterado para "Reform"), "Folha Livre", "Sul", "Volkstaat" ("Estado do Povo", "Joinvilenser Zeitung" ("Jornal Joinvilense"), "Sonn Tagsblatt" ("Folha Domingueira"), "Commércio de Joinville", "Jornal do Povo", "Jornal Evangélico", "Harmonia", "Revista do Estado", "Gazeta do Commércio", "A Comarca", "Actualidade" , "Correio do Norte", "Correio do Povo", "Jornal de Joinville", "O Município", "O Cinematógrapho", "Jaraguá-Zeitung" e o "Clarim", tiveram sua inspiração no "Observador", todos praticamente desapareceram até 1919.

Inácio Bastos e Crispim Mira marcaram a historia da imprensa em Joinville. O último, polêmico para época, morreu assassinado em Florianópolis na década de 20.

Em 1923, o jornal A Notícia foi fundado por Aurino Soares, tendo como redator Crispim Mira. Ao lado do “Jornal de Joinville”, veiculo comandado por Assis Chateaubriand, o A Notícia foi durante certo tempo o único veiculo de circulação diária na cidade.

Na década de 70, até metade dos anos 80, o semanário "Extra", circulava pela cidade. Jornal criado como veículo de motivação político-partidária para ocupar espaço na opinião pública. Encerrou suas atividades quando tentou tornar-se diário e mudar a linha editorial.

O jornal A Notícia foi o responsável em impulsionar o jornalismo no Norte Catarinense. Na década de 80 passou do processo de linotipia para o offset marcando uma nova era no jornalismo impresso. Atualmente a cidade conta com outros títulos diários como: Gazeta de Joinville e Jornal O Dia.

Embora tenha influenciado a Colônia Dona Francisca desde a década de 20, é em 1941 que o rádio chega a cidade. Neste ano foi criada pelas mãos de Wolfgang Brosig, a Rádio Difusora. Sexagenária, a emissora retomaria no final dos anos 90 o perfil traçado por seu fundador. A mais recente é a Rádio Educativa, em 1999, após muitos anos de expectativa. A Atlântida, que pertence ao grupo RBS, entrou no ar após a compra de uma emissora pertencente a uma igreja. Neste ano de 2008 a Transamérica de Joinville foi incorporada pela Jovem Pan, depois de uma negociação feita pela coordenação da Transamérica em São Paulo.

A primeira emissora de televisão só chegou a Joinville em 1979, com a TV Santa Catarina. Empreendimento local, que mais tarde foi adquirido pela RBS. A segunda geradora, ligada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), só surgiu em 2000. Um ano antes, entrou no ar o primeiro canal de TV a cabo (TV Cidade).

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A Ética é única!

por Claudia Santos


Antes de falar em “ética jornalística”, é preciso resumidamente compreender o significado da palavra Ética. Originada do grego ethos significa: modo de ser, caráter. No latim mos ou mores (no plural), significa Moral. Filosoficamente a Ética estabelece deveres na relação indivíduo-sociedade. No olhar filosófico a Ética é o que é bom para o indivíduo e para a sociedade. A Moral é o conjunto de normas, princípios e costumes que regram a conduta do indivíduo em seu grupo social. Uma linha tênue separa Ética e Moral. Enquanto a primeira é teoria, a segunda é pratica. Ética também não pode ser confundida com lei. Embora muitas leis sejam baseadas em princípios éticos.

Muitas profissões possuem um código de ética. O que significa um conjunto de normas e condutas a serem seguidas. Neste caso, passa a ter força de lei, exercendo influência relativa à conduta profissional, que se descumpridas podem gerar sanções.
“A Ética Jornalística é o conjunto de normas e procedimentos éticos que regem a atividade do jornalismo”.

Achar que a medida da ética jornalística passa apenas em informar com isenção; narrar o fato mais próximo possível da verdade; ouvir todas as fontes envolvidas; e etc; é uma visão ingênua e singela do “mundo” de que trazemos de subjetividades e do que “mundo” de imparcialidade que buscamos (ou ao menos deveríamos) na apuração, produção e publicação dos fatos.

Por outro lado achar que o jornalista deve ser “seco”, despido de opiniões é um tanto quanto irreal. É pensar ao avesso do que devemos ser verdadeiramente. A questão e separar pré-conceitos, conceitos, interesses pessoais de interesses sociais, verdade e mentira.

Afinal, a informação (produto principal do jornalista), é em tese um direito de toda a sociedade. Freqüentemente, muitos jornalistas trafegam no fogo cruzado do “interesse da empresa e do interesse da imprensa”. Enquanto a primeira preza pela qualidade na informação, a segunda visa lucro, o que deveria ser por conseqüência, não por razão. Este é o ponto onde surgem os dilemas éticos.

Entender a ética jornalística é antes de tudo entender que não existe meio-ética, assim como não existe “meia-gravidez”, diz cotidianamente meu professor e coordenador do curso de Jornalismo Dr. Samuel Lima. Portanto, a ética é única.

A linha estreita que separa o jornalismo marrom, do jornalismo comprometido com os interesses públicos, é exatamente a conduta individual de cada um de nós, o que nos “fere” como cidadãos, também deve nos ferir como estudantes ou já diplomados em jornalismo.

Se a ética é anterior ao jornalismo, não foi por este criada, significa por tanto, que a ética jornalística é a ética cidadã.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Aeroporto de Joinville perde mais um vôo

Por Janine Bastos

No dia 27 de maio a maior cidade do estado cancela mais um vôo da companhia TAM a rota da aeronave JJ3042 saia de Joinville ás 17h45min com Destino a Guarulhos. “Nossa supervisão remanejou a malha aérea e resolveu transferir o vôo de Joinville para o nordeste onde a demanda é maior”, alega Alex Klaus 27 anos, despachante de vôo, insatisfeito. Os cancelamentos das aeronaves causam instabilidades para os profissionais que temem perder seus empregos. “Joinville cada vez mais fica sem movimento as pessoas preferem embarcar por Curitiba, isso preocupa”, lamenta Cinthia Borba 22 anos agente de aeroporto da GOL.
Quem precisa utilizar o Aeroporto de Joinville se depara com a falta de opções de horários e destinos. As dificuldades parecem refletir no crescimento do transporte aéreo do município. Dados da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) mostram que número de embarques na cidade cresceu 2,55% entre os quatro primeiros meses de dois mil e oito. Os desembarques aumentaram só 1,2%. Os números estão bem abaixo do crescimento nacional, que foi de 9,6% , segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Há sete anos atrás Joinville obtinha 28 vôos com as companhias: Varig, Ocean Hair, Rio Sul e Transbrasil. Em 2004 a empresa aérea GOL Linhas Aéreas Inteligente entra na disputa de mercado e se instala na cidade. “Quando a GOL começou a operar em Joinville houve um choque, pois suas tarifas obrigaram as empresas baixarem seus preços. Chegando ao ponto de fecharem”, comenta David Zismann. 27 anos, que trabalhou na Varig e hoje é agente líder da GOL.
Com oitocentos e quarenta mil e quinhentos habitantes o município é considerado o mais populoso de Santa Catarina, segundo o IBGE. A cidade hoje conta com 2 vôos da GOL e 3 da TAM todos com destinos para São Paulo. As outras empresas aéreas encerraram suas funções pelo fraco movimento. A última companhia a se retirar da cidade foi a Varig em outubro de dois mil e sete.
O empresário Nelson Hertesen, 49 anos, ao ser questionado por solicitar passagens com saída de Curitiba ao invés de Joinville, suspira “O aeroporto de Joinville não tem estrutura. Faltam aparelhos que facilitam a visualização das aeronaves mesmo com fortes neblinas. Curitiba dispõem de várias companhias e horários”. Claudia Delmonte Moritz, 33 anos, gerente da Gol, argumenta que com mais um cancelamento de vôo a situação é preocupante, já que o povo Joinville se acostuma a viajar por Curitiba e acaba não procurando Joinville.
“Nosso aeroporto foi esquecido promessas e mais promessas nada mais do que isso. Temos uma só sala de embarque que não comporta mais que cem passageiros, sendo que uma aeronave tem capacidade de cento e quarenta e quatro á cento e oitenta e seis lugares”, disse Marcelo Guerreiro, 35 anos, fiscal da Infraero. Aline Kiswoskr, 45 anos, gerente da Olympia Tur, descreve que as agências de turismo atendem diariamente empresários e são comuns reclamações e insatisfações dos horários disponíveis da cidade.
A Gol informou que por enquanto não pretende modificar os horários e os destinos dos vôos. A empresa realiza estudos, mas as mudanças devem ser a longo prazo. A TAM argumenta que as mudanças para esse ano já foram feitas com o cancelamento de um vôo.

Novo jeito de comemorar...

O atacante Cassano, do time da Itália, não tirou só a camisa na comemoração da vitória da equipe, para a segunda fase da Euro 2008, mas sim ficou só de cueca. Após o juiz apitar o fim da partida contra a França, na ultima terça-feira, que terminou com vitória dos italianos por 2 a 0, o jogador da Sampdoria extrapolou na comemoração. Na festa com a torcida, o jogador se empolgou e tirou todo o uniforme Estádio Letziground, em Zurique. Cassano foi retirado de campo por membros da comissão técnica italiana.

Fabiane Borges

Ética dos meios


Andressa Thayse Schulze



A falta de ética no jornalismo tem prejudicado a divulgação de notícias verídicas.O sensacionalismo nos meios de comunicação é outro fator alarmante que a cada dia que passa se faz mais presente na sociedade.Casos que poderiam ser resolvidos facilmente, sem a balbúrida da mídia, acabam demorando e se prolongando mais do que o esperado por falta de conscientização dos meios.A divulgação espalhafatosa de inúmeras notícias têm diminuido o poder dos meios de comunicação perante as pessoas,uma vez que eles pouco se preocupam em infromar a todos com novas informações,divulgando insistentemente notícias já marteladas.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

APRENDENDO COM OS MESTRES


Nas sextas-feiras tenho o prazer de assistir as aulas de Comunicação Oral e Escrita, ministradas pelo professor Cazuza à turma do primeiro semestre de Publicidade e Propaganda. Diga-se de passagem, sem querer fazer “merchan” ou mesmo “puxar o saco” do professor, às aulas além de divertidas têm sido muito proveitosas. Mesmo porque sou da primeira turma de jornalismo do Bom Jesus/Ielusc e fiz aula de língua portuguesa há muito tempo.

Em uma destas sextas o professor nos pediu que escrevessemos um outro final para o Conto “O Enfermeiro” de nada menos que, Machado de Assis. Gostei tanto da experiência que resolvi dividi-la com vocês. É claro que não queiram comparar o final original do Conto, com o final que esta humilde e eterna aprendiz ensaiou. Mas se almejamos algo, em um dado momento temos que buscar.

O que segue em letra maior é o texto original do Conto. A parte por mim escrita é a que está ao fim deste, em letras menores, e deve ser inserida no contexto a partir da frase em negrito no texto original.

ORIGINAL DO CONTO: “O ENFERMEIRO”
De Machado de Assis


PARECE-LHE ENTÃO que o que se deu comigo em 1860, pode entrar numa página de livro? Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado.

Olha, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras cousas interessantes, mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel; o ânimo é frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol dos diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro senhor, leia isto e queira-me bem; perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas. Pediu-me um documento humano, ei-lo aqui. Não me peça também o império do Grão-Mogol, nem a fotografia dos Macabeus; peça, porém, os meus sapatos de defunto e não os dou a ninguém mais.

Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me teólogo, — quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou-me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à Corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila.

Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dous deles quebrou a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade, segui para a residência do coronel.

Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal. Começou por não dizer nada; pôs em mim dous olhos de gato que observa; depois, uma espécie de riso maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao faro das escravas; dous eram até gatunos!

— Você é gatuno?
— Não, senhor.

Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto. Colombo? Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? achou que não era nome de gente, e propôs chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse de seu agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque me parece pintá-lo bem, como porque a minha resposta deu de mim a melhor idéia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário, acrescentando que eu era o mais simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos uma lua-de-mel de sete dias.

No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinências de moléstia e do temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei ocasião.

Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e atirou-me dous ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei.

— Estou na dependura, Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito tempo. Estou aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há de ir, há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for, acrescentou rindo, eu voltarei de noite para lhe puxar as pernas. Você crê em almas de outro mundo, Procópio?

— Qual o quê!

— E por que é que não há de crer, seu burro? redargüiu vivamente, arregalando os olhos.

Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram as mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d’asno, idiota, moleirão, era tudo. Nem, ao menos, havia mais gente que recolhesse uma parte desses nomes. Não tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico, em fins de maio ou princípios de julho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo, aplaudi-lo, e nada mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um dicionário inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário, ia ficando.

Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por tornar à Corte. Aos quarenta e dois anos não é que havia de acostumar-me à reclusão constante, ao pé de um doente bravio, no interior. Para avaliar o meu isolamento, basta saber que eu nem lia os jornais; salvo alguma notícia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto do mundo. Entendi, portanto, voltar para a Corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de brigar com o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e tendo guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los aqui.

Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento, descompondo o tabelião, quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves lapsos de sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão. No princípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram-me que ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um mês viria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me substituto.

Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato de mingau, que achou frio, o prato foi cair na parede onde se fez em pedaços.

— Hás de pagá-lo, ladrão! bradou ele.

Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de d’Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.

Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino!

Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo calado. Voltava a andar à toa na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça; arrependia-me de ter vindo. — "Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!" exclamava. E descompunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.

Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do vento, se ventasse. Não ventava. A noite ia tranqüila, as estrelas fulguravam, com a indiferença de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a falar de outra coisa. Encostei-me ali por algum tempo, fitando a noite, deixando-me ir a uma recapitulação da vida, a ver se descansava da dor presente. Só então posso dizer que pensei claramente no castigo. Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. Senti que os cabelos me ficavam de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de pessoas, no terreiro espiando, com um ar de emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no ar; era uma alucinação.

Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.

A primeira idéia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que descobrissem alguma cousa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava fitar ninguém. Tudo me dava impaciências: os passos de ladrão com que entravam na sala, os cochichos, as cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com piedade:

— Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido.

Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A passagem da meia escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo; receei que fosse então impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui andando. Quando tudo acabou, respirei. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência, e as primeiras noites foram naturalmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro, nem que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia, tinha alucinações, pesadelos...

— Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia.

E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura, impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E elogiando, convencia-me também, ao menos por alguns instantes. Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, é que, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja do Sacramento. Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de joelhos todo o tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à porta, tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui só. Para completar este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não dissesse: "Deus lhe fale n’alma!" E contava dele algumas anedotas alegres, rompantes engraçados...

Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe mostrei, dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal. Imagine o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram a mesma cousa. Estava escrito; era eu o herdeiro universal do coronel. Cheguei a supor que fosse uma cilada; mas adverti logo que havia outros meios de capturar-me, se o crime estivesse descoberto. Demais, eu conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser instrumento. Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia.

— Quanto tinha ele? perguntava-me meu irmão.

— Não sei, mas era rico.

— Realmente, provou que era teu amigo.

— Era... Era...

Assim por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma cousa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas saldas.

Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia aproximando, recordava o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto de tragédia, e a sombra do coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos, toda a noite horrenda do crime...

Crime ou luta? Realmente, foi uma luta, em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa idéia. E balanceava os agravos, punha no ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o tornava assim rabugento e até mau... Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade daquela noite... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas coincidentes? Podia ser, era até o mais provável; não foi outra cousa. Fixei-me também nessa idéia...

Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar; mas dominei-me e fui. Receberam-me com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os legados pios, e de caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu servira ao coronel, que, apesar de áspero e duro, soube ser grato.

— Sem dúvida, dizia eu olhando para outra parte.

Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as cousas correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me cousas dele, mas sem a moderação do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era austero...

— Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo.

E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe diga? Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração um singular prazer, que eu sinceramente buscava expelir. E defendia o coronel, explicava-o, atribuía alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim, que era um pouco violento... Um pouco? Era uma cobra assanhada, interrompia-me o barbeiro; e todos, o coletor, o boticário, o escrivão, todos diziam a mesma coisa; e vinham outras anedotas, vinha toda a vida do defunto. Os velhos lembravam-se das crueldades dele, em menino. E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços recompunha-se logo e ia ficando.

As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a idéia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo: distribuí alguma cousa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dous contos. Mandei também levantar um túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e foi morrer, creio eu, no Paraguai.

Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade...
Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino sermão da montanha: "Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados."


Texto por mim criado:

... “E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe diga? Eu, a princípio, ia ouvindo” sem nenhuma atenção. A única coisa que me ocorria, era a lembrança de minhas mãos apertando o pescoço magro do coronel. E naquele instante, alguém relatou a existência de uma filha que o coronel teria tido fora do casamento.

Tal situação deixou-me intrigado e impaciente. Como poderia dormir em paz sabendo que, além de tê-lo assassinado, tirava também o direito de herança da menina bastarda. Talvez agora pudesse compreender melhor o porque de tanto rancor dentro daquele coração corroído pelo tempo e pela doença.

Se antes pensava em alguma forma de como desfazer-me da herança maldita, agora já deixara para trás tal pensamento. Por semanas a fio pus-me a procurar, incansavelmente, a pobre menina filha da empregada, que fora expulsa da fazenda grávida de sete meses. Rastreei diversas pessoas que a conheciam atrás de informações. Assim que a encontrasse pretendia entregar-lhe parte que sobrara do dinheiro e retornar a minha cidade de origem com a consciência, talvez um pouco, mais tranqüila.

No primeiro instante em que a vi de costas, em seu casebre a pendurar roupas, senti um misto de alegria e de alívio. Quando chamei seu nome, Angelina virou-se e o vento a balançar seus cabelos negros, provocara-me a sensação de que borboletas voavam dentro de minha barriga. Neste instante caí em desespero. Queria apenas entregar-lhe o que lhe era de direito, porém ao vê-la desejei nunca mais deixá-la. Jovem viúva que era, saudosa por amor, beijos e carícias tanto quanto eu, nos apaixonamos. Jamais imaginara que depois de tantos anos de penúria pudesse o destino ser tão bondoso. Além da herança o coronel deixou-me uma filha linda, de olhos negros como a noite, de pele clara e macia.

“Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias...mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade...”

Nunca contei a Angelina toda a verdade. Saberá pelas letras que estampam este pedaço de papel. Espero que me compreenda e me perdoe. Afinal não fosse o acesso de raiva do coronel e meu descontrole, e desespero em busca da liberdade, jamais teríamos nos encontrado.

POR CLAUDIA SANTOS

NORBERTO BOBBIO DEFENSOR DA DEMOCRACIA E DOS DIREITOS HUMANOS

Por Claudia dos Santos


“Cultura é equilíbrio intelectual, reflexão crítica, sendo de discernimento, aborrecimento perante a qualquer simplificação, qualquer maniqueísmo, qualquer parcialidade”. Norberto Bobbio, em carta a G.Einaudi, julho de 1968.

Norberto Bobbio foi o filósofo da democracia e ferrenho combatente em favor aos direitos humanos. Considerado um dos mais importantes pensadores do século passado. Manteve intacta sua independência intelectual, mesmo sempre aberto ao diálogo com seus adversários. Exerceu importante papel de mediador, em nome da razão e da liberdade. Por meio de ensaios, colaborou com jornais e revistas.

Bobbio diz em sua autobiografia: “Fui educado a considerar todos os homens iguais e a pensar que não há diferença entre quem é culto e quem não é culto, entre quem é rico e quem não é rico”. Complementa: ”Recordei essa educação para um estilo de vida democrático, mas confesso ter-me sentido pouco à vontade diante do espetáculo das diferenças entre ricos e pobres, entre quem está por cima e quem está por baixo na escala social, enquanto o populismo fascista tinha em mira arregimentar os italianos dentro de uma organização social que cristalizasse as desigualdades”.

Filho de família tradicionalmente burguesa nasceu em Turim, em 18 de outubro de 1909. Em sua cidade natal, formou-se em Direito em 1931 e em Filosofia em 1933. Entre 1948 e 1972, foi professor de Filosofia do Direito, e de 1972 a 1979 professor de Filosofia Política.
Observador e analista independente, Bobbio julgava inibidora e desinteressante a acomodação de uma militância partidária.

Foi, por muitos, considerado a consciência democrática da política de seu país. A democracia para Bobbio era algo dinâmico, em constante transformação, como cita em O futuro da democracia.
Participou do movimento de resistência a Mussolini e ajudou a estruturar a política italiana do pós-guerra. Criando o Partito d´Azione, o partido da ação.

Bobbio aliou a reflexão acadêmica à ação política e deixou para o mundo vasta obra na qual reflete sobre temas atuais como democracia e direitos humanos.

Saber ouvir as lições dos clássicos da política é um dos mais preciosos ensinamentos que Bobbio nos deixou no campo da Teoria Política. Clássico para Bobbio é o autor que consegue ao mesmo tempo ser “intérprete autêntico de seu próprio tempo”, que é “sempre atual, de modo que cada época, ou mesmo cada geração, sinta a necessidade de relê-lo e, relendo-o, de reinterpreta-lo” e que tenha construído “teorias-modelo das quais nos servimos continuamente para compreender a realidade”.

Ao encerrar suas atividades docentes, o fez com uma citação de Max Weber: ”A cátedra universitária não é nem para os demagogos, nem para os profetas”.
Em 1984 foi declarado professor emérito da Universidade de Turim e nomeado senador vitalício da Itália pelo presidente Sandro Pertini. Morreu em janeiro de 2004, em sua terra natal, aos 94 anos.